terça-feira, 14 de janeiro de 2014

POEMA DE NIETZSCHE


O Andarilho

Um andarilho vai pela noite
A passos largos;
Só curvo vale e longo desdém
São seus encargos.
A noite linda –
Mas ele avança e não se detém.
Aonde vai seu caminho ainda?
Nem sabe bem.

Um passarinho canta na noite:

“Ai, minha ave, que fizeste!
Que meu sentido e pé retiveste,
E escorres mágoa de coração
Tão docemente no meu ouvido,
Que ainda paro
E presto atenção? –
Por que lanças seu chamariz?”

A boa ave se cala e diz:

“Não andarilho! Não é ti, não,
Que chamo aqui
Com a canção –
Chamo uma fêmea de seu desdém
Que importa isso, a ti também?
Sozinho, a noite não está linda –
Que importa a ti? Deves ainda
Seguir, andar,
E nunca, nunca, nunca parar!
Ficas ainda?
O que fez minha flauta mansa,
Homem da andança?”
  
A boa ave se cala e pensa:

"O que lhe fez minha flauta mansa,
Que fica ainda? –
O pobre homem da andança!”

Nenhum comentário:

Postar um comentário