sábado, 24 de agosto de 2013

SOBRE POESIA

 
 
Esforça-te pelo verso?
Não o faças.
Independe ele de tua vontade.
E virá nos desvãos de tuas virtudes,
Afrontando teus códigos morais
Imersos na poeira do desuso.

Pensas que seja imperativa a tua decisão?
Pois, esforça-te em vão, engana-te.
Tua altivez é inócua na poesia
Porque o poema se faz por vias que tu desconheces,
Pela estrada da desesperança que recusas trilhar,
Nos vazios espontâneos entre duas matérias.

Todavia, atentai para esse instante
Em que chega a poesia como revelação
Visível nas sombras do caminho, do tempo
E, apressa-te, corres e o inscreve na pedra
Pois o poema não acontece duas vezes.

Ponciano Ratel
Do livro A Vela na Demasia de Vento.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A tarde cinza






A tarde cinza
Esconde o sol
Recordo os olhos na janela.
Triste moldura
Da solidão
Reflete imensa ausência dela.

O cair da tarde
No pôr-do-sol
Vagam os barcos na tormenta.
Sete visões
Do teu olhar
Sonhos invadem a noite imensa.

Veremos, então, a tempestade,
Refugiados nos lençóis.
Salvos do abismo da cidade,
Dos naufrágios e dos faróis.

Adão Lima de Souza

Eu tenho medo





Eu tenho medo,
Medo de arma nuclear.
Eu tenho medo,
Medo de não conseguir mais respirar.

Eu tenho medo,
Medo de a arma disparar.
Eu tenho medo,
Medo do mundo se acabar.


Eu sei que parece paranoia,
Pois, asseguram, não há o que temer.
Há abrigos, rotas de fuga,
Programados pra nos proteger.

Mas eu tenho medo,
Medo de arma nuclear.
Eu tenho medo,
Medo de não conseguir mais respirar.

Dizem pra manter a calma,
Nada há para temer.
Mas isso não conforta a alma
Se o holocausto acontecer.

Por isso eu tenho medo,
Medo de a arma disparar.
Eu tenho medo,
Medo do mundo se acabar.

Sempre o mesmo discurso programado,
Não se deixe convencer.
Porque os terroristas do Estado
Nada farão pra lhe proteger.

Por isso eu tenho medo,
Medo de arma nuclear.
Eu tenho medo,
Medo de não conseguir mais respirar.

Mas eu tenho medo,
Medo de a arma disparar.
Eu tenho medo,
Medo do mundo se acabar.
Armas químicas, biológicas,
Gases nocivos, abrigo antiaéreo.
Chantagem atômica, guerras fascistas.
Rotas de fuga para o cemitério.

Portanto eu tenho medo,
Medo de arma nuclear.
Eu tenho medo,
Medo de não conseguir mais respirar.

Por isso eu tenho medo,
Medo de a arma disparar.
Eu tenho medo,
Medo do mundo se acabar.

Adão Lima de Souza