Extraído
do livro Aurora do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, Nós aeronautas do
espírito, fragmento que reafirma a lucidez desse grande pensador demasiado
humano, é uma conclamação a nos lançarmos no infinito de nossa humanidade, pelo
desejo de voar cada vez mais longe, como pássaros audazes que não se detém
sobre o mar, pois quer transpor o velho pensamento ocidental, para, deixando de
ser camelo, transforma-se em criança, e pela transmutação dos valores aprendermos
a ser super-homem.
Todos esses pássaros audazes, que voam ao longe, ao mais longínquo – certamente! Em algum lugar não poderão ir mais longe e pousarão sobre um mastro ou um mísero recife – e, além do mais, tão gratos por esse deplorável pouso! Mas quem poderia concluir disso que adiante deles não há mais nenhuma descomunal rota livre, que eles voaram tão longe quanto se pode voar!
Todos
os nossos grandes mestres e precursores acabaram por se deter, e não é com
gesto mais nobre e mais gracioso que o cansaço se detém: também comigo e
contigo será assim! Mas que importa isso a mim e a ti! Outros pássaros voarão
mais longe!
Esta
nossa compreensão e confiança voam em competição com eles, para além e para o
alto, ergue-se a prumo sobre nossas cabeças e sobre sua impotência, às alturas,
e de lá vê a distância, antevê os bandos de pássaros muitos mais poderosos do
que somos, que se esforçarão na direção em que nos esforçamos, e onde tudo
ainda é mar, mar, mar!
E para
onde queremos ir? Queremos passar além do mar? Para onde nos arrasta esse
poderoso apetite, que para nós vale mais do que qualquer prazer? Mas por que
precisamente nessa direção, para lá onde até agora todos os sóis da humanidade
declinaram?
Talvez um dia dirão de nós, que também nós, navegando para o ocidente, esperávamos alcançar umas Índias - mas que nosso destino era naufragar no infinito? Ou, meus irmãos? Ou?
Talvez um dia dirão de nós, que também nós, navegando para o ocidente, esperávamos alcançar umas Índias - mas que nosso destino era naufragar no infinito? Ou, meus irmãos? Ou?
Adaptado por: Adão Lima de Souza.
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