“Os donos das minas começaram assim a contratarem os burgueses para trabalhar para eles e também na entrada das minas colocaram muitos policiais de segurança caso houvesse algum ataque” (Germinal). |
Émile
Zola (1840-1902), escritor francês do século XIX, foi, de fato, um precursor de
Jean-Paul Sartre no que toca ao direcionamento da literatura para luta em
defesa de oprimidos e deserdados. Pois empregou, também, seu gênio criativo na
confecção de livros que denunciassem as mazelas do Capitalismo, então incipiente,
porém já selvagem com a Revolução Industrial.
E
tal como Sartre faria tempos depois, durante a ocupação de Paris pelos nazistas,
escrevendo livros e peças teatrais que conclamavam o povo francês à
resistência, e que mais tarde seria rotulado pelos críticos literários, pejorativamente,
de literatura de engajamento, como se obras da grandeza de Idade da Razão se
apequenasse diante dessa constatação inconsistente e pretensiosa, Émile Zola,
no seu tempo, também emprestou sua pena à luta do proletariado parisiense,
submetido a condições subumanas, condenado ao trabalho forçado nas minas de
carvão em troca de contrapartida pecuniária irrisória.
Em Germinal
(1885), livro magnífico que relada a condição degradante dos trabalhadores das
minas de carvão que abasteciam as máquinas insanas das indústrias francesas, o
autor descreve com riqueza de detalhes as condições insalubres do ambiente de
trabalho e moradia dos operários, bem como a promiscuidade a que era submetida
sua família, em particular as mulheres que, além de subjugadas pelo o homem
como se fosse uma coisa natural, ainda era obrigada a prestar favores sexuais
aos patrões sob a ameaça de demissão sua e toda sua família, o que significava
perder o abrigo miserável que possuíam e, portanto, padecer de frio e de fome.
Em
toda a sua obra, mas principalmente, em Germinal, onde as teorias marxistas,
então despontando no ocidente, Zola consegue, com seu modo peculiar e rico de
descrever pessoas e lugares, fazer com que o leitor experimente as mesmas
sensações de seus personagens. E não me refiro aqui apenas às sensações
perceptíveis pelo intelecto, pela psique como diriam os Freudianos, e, sim, sem
temer ser entendido como lunático, a uma experiência física das agruras por que
passam os famélicos e infelizes personagens escravizados naquelas malditas
minas de carvão.
Portanto,
em que pese a fala vazia dos críticos, rotulando autores com Sartre e Zola para
não reconhecerem o quão foram - e ainda são – imprescindíveis à luta humana
contra a crueldade posta em prática para satisfazer a ganância insana da
burguesia pelo acúmulo de riquezas.
Por
essa, mais que suficiente, compreender a literatura de Émile Zola é devolver a
este indispensável passageiro terrestre o seu lugar entre os combatentes pela
liberdade concreta.
Por: Adão Lima de Souza
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