segunda-feira, 31 de março de 2014

Ferreira Gullar: "As peras"


As peras, no prato,
apodrecem.
O relógio, sobre elas,
mede a sua morte?
Paremos o pêndulo.
Deteríamos, assim, a
morte das frutas?

Oh as peras cansaram-se
de suas formas e de sua doçura!
As peras, concluídas, gastam-se no
fulgor de estarem prontas
para nada.
O relógio não mede.
Trabalha no vazio: sua voz desliza
fora dos corpos.

Tudo é o cansaço de si.
As peras se consomem no seu doirado sossego.
As flores, no canteiro diário, ardem,
ardem, em vermelhos e azuis.
Tudo desliza e está só.
O dia comum, dia de todos, é a
distância entre as coisas.
Mas o dia do gato, o felino e sem palavras
dia do gato que passa entre os móveis é passar.
Não entre os móveis. Passar como eu passo: entre nada.

O dia das peras é o seu apodrecimento.
É tranquilo o dia das peras?
Elas não gritam, como o galo.
Gritar para quê? Se o canto é apenas um arco
efêmero fora do coração?

Era preciso que o canto não cessasse nunca.
Não pelo canto (canto que os homens ouvem)

Mas porque cantando o galo é sem morte.

O que cabe na poesia?


Por que confinas em tua poesia
A dor tua e do outro?
Na poesia não cabem dores
Próprias ou alheias,
Nem humildes sentimentos... ou altivos!

As dores que te alquebram,
Os adjetivos mensuram com demasiada maestria.
Como também a mediocridade
Tua e minha.

Como impor à poesia
A pauta da última reunião
Ou a deliberação do sindicato?
Não podemos submetê-la à apreciação do partido.
Isto macularia a poesia.

Manifestações políticas,
De apreço,
Abaixo-assinado,
Indicações à diretoria insultariam a poesia.

Não vimos na poesia Brecht fazer nomeações.
Nem Maiakovski discursar no parlamento.

Ficam de fora da poesia os medicamentos homeopáticos,
Mas cabe um pneumotórax
E venenos anti-monotonia.

Na poesia cabem palavras (in) variáveis,
Delírios, a alegria da caatinga e as revoluções.

Adão Lima de Souza
Do Livro A Vela na Demasia de Vento.


segunda-feira, 24 de março de 2014

E APOIS! - MAIS MÉDICOS: MAIS SAÚDE OU MAIS VOTOS?

OS “ELES” QUEREM NOS FAZER CRER que é desarrazoado se opor a programas claramente eleitoreiros como o “Mais Médicos”, pois são  medidas inestimáveis para fazer submergir do estado de coma  em que se encontra a saúde pública no Brasil. E que tal atitude é própria daqueles que torcem pelo quanto pior melhor, já que não se conformam com os extraordinários avanços ocorridos na última década em áreas prioritárias como educação e saúde, É o caso da postura dos médicos estrangeiros , a exemplo dos cubanos, que submetidos às más condições de trabalho e remuneração , ao fugirem, denunciam  o total descaso do governo em relação à saúde, e, por isso, são criminalizados. 

E, a fim de manter a aparência do programa tão amplamente alardeado como redentor  das mazelas e do descaso da saúde, o governo, a título de medida preventiva , como tem sido pontual em bravatas e paliativos improfícuos, sinaliza, agora, com perseguição policial àqueles que se ausentarem do trabalho por mais de 48 horas, transformando a saúde pública em negócio de polícia, e os médicos cubanos, que só querem viver nos padrões mínimos de conforto que a sociedade brasileira goza, são agora taxados de bandidos dignos dessa perseguição, pretendendo, com isso, assegurar tratamento melhor aos usuários do SUS.

Diante disso, ouvir de uma pessoa leiga: “Se a ausência ao trabalho agora justifica perseguição policial, então, talvez fosse mais eficiente à vigilância obrigar logo os médicos cubanos a usarem tornozeleiras eletrônicas, deixando claro que a distância entre médico e bandido é somente a nacionalidade”. Os humanistas de plantão e outras pessoas letradas a serviço dos “Eles” dirão que, sendo bem mais relevante o cuidado com a saúde da população, relativizar o direito á liberdade de alguns cubanos é menos prejudicial e atende a ponderação dos princípios constitucionais, quando em rota de colisão.

E quanto ao cidadão relegado ao descaso completo pelas autoridades , padecendo em macas sujas, espalhadas pelos corredores de hospitais sucateados porque o dinheiro  da saúde se esvai pelo esgoto imundo da corrupção,  entenderá, ele,  algum dia, que por serem pobres e numerosos, qualquer do povo que morra à míngua por falta de atendimento médico é importante apenas  enquanto número frio para as estatísticas oficiais?  E que, quando se diz que saúde é garantia constitucional , quer-se, ao mesmo tempo, afirmar que o fato de ser direito assegurado em lei não significa, exatamente, que deva ser cumprido, pois existem leis e leis?

Por essas e outras, é que até hoje nenhum projeto sério foi apresentado para sanear as mazelas da saúde pública, como mudar as diretrizes curriculares das universidades de medicina, priorizando pessoas em vez de mercado e lucro, e, expandir as vagas pelos distantes rincões desse imenso país. Ao contrário disso, “Os Eles”, sempre conseguem aprovar propostas mirabolantes para área da saúde, em que se gastam somas vultosas de dinheiro e tudo permanece igualzinho ao que era, sem médicos, sem remédios, sem leitos, sem higiene, mas, com falsos administradores nomeados para receberem salários astronômicos devido a íntima ligação com os intocáveis senhores da “Res publica”.

ENTÃO, como se diz por aí: “Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente” Contudo, como dizia Albert Schweitzer, felicidade é nada mais que boa saúde e memória ruim. E, para arrematar, o que nos conforta é aquela sentença acolhedora escrita na entrada de alguns cemitérios pelo interior do Brasil: “Nós que aqui estamos, por vós esperamos”. EU É QUE NÃO ACREDITO MAIS NOS “ELES”. E VOCÊ?


sábado, 22 de março de 2014

Machado de Assis e a Nova Literatura brasileira.

Alguns dos escritores da geração nascida por volta da década de 1960, e que começaram a publicar livros nos anos 90, têm, por exemplo, algumas características definidas pela vivência no período da ditadura brasileira (entre os anos 1960 e 1980) que estão presentes em muitos dos seus romances.
“Toda a nossa juventude foi vivida durante o regime militar. E parte dessa experiência influenciou a nossa literatura”, afirma o escritor amazonense Milton Hatoum, de 61 anos, autor de Dois Irmãos, eleito por uma pesquisa do jornal Correio Braziliense como o melhor romance dos últimos 15 anos, e Cinzas do Norte, vencedor do prêmio Portugal Telecom de Literatura.
Um exemplo que ilustra bem a teoria de Hatoum, é o livro O Filho Eterno(2007), do escritor Cristovão Tezza. No romance, que recebeu os prêmios São Paulo de Literatura, Portugal Telecom e Jabuti, Tezza narra a própria história, de quando tinha seus 30 e poucos anos e vivia no período da ditadura brasileira. O personagem central é surpreendido pela gravidez da esposa. E a surpresa se torna maior quando ele descobre que seu filho tem Síndrome de Down. Entre a militância na política e o início da carreira de escritor, o autor narra na ficção  as dificuldades reais em aceitar e conviver com a criança.
Misturar sua própria história a uma ficção é, aliás, outra tendência. Chamado de auto ficção, o gênero combina informações biográficas do autor para construir as narrativas. É um estilo que aparece em diversos livros, não só de autores brasileiros, mas também de outros países.
Mas não é só disso que os romancistas brasileiros estão falando. “Embora esse estilo esteja sendo praticado em várias literaturas, inclusive no Brasil, acho que o que caracteriza a nossa literatura contemporânea é a diversidade. Não há um caminho único sendo trilhado nesse momento”, diz o escritor mineiro, Luiz Ruffato, de 53 anos, colunista deste diário e autor de Estive em Lisboa e Lembrei de Você (2009).
Para o escritor pernambucano Marcelino Freire, 47 anos, autor de Contos Negreiros (2005), vencedor do prêmio Jabuti, a autoficção mesmo sendo uma tendência, não é uma novidade. “Fala-se muito da autoficção, mas acho isso uma bobagem, porque quando um escritor escreve alguma coisa, muito do que ele viveu está no que ele faz, naturalmente”, diz. “Se você pensar na Clarice Lispector, com A Hora da Estrela (1977), por exemplo, e, em Franz Kafka, com A Metamorfose (1915), essa característica já estava presente em seus livros”.
Para ele, a urbanização da literatura brasileira é, esse sim, uma forte característica dos romances que vêm sendo publicados nas últimas duas décadas. “A urbanização do imaginário da literatura brasileira é um fenômeno recente – porém irreversível”, escreve Pinto em seu livro Paisagens Interiores e Outros Ensaios (2012).
A Geração 90, além dos resquícios de ter vivido sob um regime ditatorial, tem também a periferia decadente de São Paulo como epicentro, “com um evidente fascínio pela marginalidade”, diz.
Outro exemplo de que a concisão pode estar na moda, mas não é algo de hoje, é o escritor Machado de Assis (1839-1908) que no século passado já escrevia, dentre outras coisas, seus microcontos. “Pensa no quanto Machado de Assis já era moderno?”, diz Freire, lançando luz sobre outra tendência. “O que eu acho que tem sempre de novo e, ao mesmo tempo, sempre será velho na literatura é a dor. Cada um sabe o que está doendo. A dor de Dostoievski é a mesma dor que vai aparecer na minha literatura, o que difere é o olhar que cada um lança sobre ela”.
Por: Adão Lima de Souza

quinta-feira, 13 de março de 2014

Os Bons Perdedores

Homem de Van Gohg




Tua casa, tua indumentária,
Sinônimos da vida sem sol... Sem sal.

Teus pensamentos, desejos,
São vestígios inegáveis
De tua mediocridade, da tua estagnação.
Do querer fragmentado e culposo que acalentas.

Tu não foste herói por falta natural de condição
Mas, por improbabilidade de tua existência.

Sempre almejaste verdades.
Tiveste filhos e os perdera.
Por desânimo, abandonaste a trilha da liberdade e,
Imerso na loucura abismal do cotidiano, encolheu.

Agora, enervado,
Esperas que a mulher,
Para quem tu eras promessa de aventura e erotismo,
Possa te aparar na terrível queda.

Adão Lima de Souza

Do livro A Vela na Demasia de Vento

quarta-feira, 5 de março de 2014

Cadernos Anarquistas: Errico Malatesta (1853 – 1932)

Errico Malatesta nasceu em 14 de dezembro de 1853, na pequena cidade de Santa Maria de Capua Vetere, na província de Caserta. Seu pai, “um homem de ideias liberais”, segundo Luigi Fabbri, era um  rico proprietário de terras. 

Aos 14 anos de idade, Malatesta inicia sua atividade política ao protestar contra uma injustiça local, através de carta que envia ao rei Vittorio Emmanuele II, considerada por Fabbri como “insolente e ameaçadora”. As autoridades levaram a sério e ordenaram a prisão, em 25 de março de 1868. Seu pai conseguiu libertá-lo recorrendo a amigos.

Dois anos mais tarde (1870), segundo Angiolini, ele foi novamente preso em Nápoles, por liderar uma manifestação e “suspenso” por um ano da Universidade de Nápoles, onde estudava Medicina. Foi um dos militantes de grande destaque no movimento operário e no anarquismo. Sua relevância no meio libertário e revolucionário não é resultado nem do culto à sua personalidade nem de uma proeminência dada pela história oficial.

A militância de Malatesta é fortemente marcada pela prática social coerente e dedicada e pela meditação séria e exaustiva acerca da realidade na qual atuava o movimento operário em fins do século XIX e início do século XX, em várias partes do mundo. Em seus escritos destacam-se a clareza e a força na expressão das suas ideias, bem como uma grande preocupação em se fazer entender mesmo por aqueles que têm pouca instrução para ler um texto escrito.

Além disso, Malatesta é um dos primeiros anarquistas a se preocupar mais seriamente com uma teorização sistemática da prática social que os anarquistas e o movimento operário vinham desenvolvendo desde meados do século XIX. Nesse ponto, sua contribuição à questão social é fundamental.


OBS: É livre, e inclusive incentivada, a reprodução desta brochura, para fins estritamente não comerciais, desde que a fonte seja citada e esta nota incluída.

Extraído de Cadernos Anarquistas. Leia mais em: http://www.resistencialibertaria.org

segunda-feira, 3 de março de 2014

A Primeira Banda Metaleira do Brasil.



A banda O Peso iniciou sua atividades no ano de 1975 se apresentando no Hollywood Rock, pioneiro festival de rock realizado no Rio de Janeiro, evento que foi registrado no documentário Ritmo Alucinante. Depois, dos parceiros, Luiz Carlos Porto e Antônio Fernando, debandarem do Ceará para o Rio de janeiro, em 1972, a fim de participarem, com a música "O Pente", da sétima edição do Festival Internacional da Canção.

Após isso, dissolvida a dupla, Luís Carlos(vocais), dois anos depois, quando retornou ao Rio, fundou o grupo O Peso, junto com Gabriel O'Meara (guitarra), Constant Papineau (piano), Carlos Scart (baixo), Carlos Graça (bateria).

No ano de 1975, a banda assinou contrato com a gravadora  Polydor e lançou o LP "Em busca do tempo perdido", no qual mesclava elementos do blues e do rock e, em seguida, o compacto "Sou Louco por Você/Me Chama de Amor".

No final dos anos 70, o grupo encerrou as atividades. Em 1984, com a revitalização do rock no Brasil, o grupo retornou às atividades, apenas com Luiz Carlos da formação original. Nesse período, o grupo apenas fez shows tocando seu antigo repertório e não lançou novos discos.

Confira o registro dessa grande banda.




Discografia:

Em Busca do Tempo Perdido (LP. 1975)
Hollywood Rock (LP Ao vivo 1975, com Erasmo Carlos, Raul Seixas e Rita Lee & Tutti Frutti)
Sou Louco por Você / Me Chama de Amor(Compacto, 1975). 

Por: Adão Lima de Souza


sábado, 1 de março de 2014

A Filosofia do Riso



Quanta altivez há num sorriso!
Por que, então, sorrimos tão pouco?
Porque somos por demasiado sérios
E sabemos que é preciso a palavra.
Por isso, falamos a esmo... Mesmo sendo inconclusas as palavras!
Contudo, dentre tantas línguas, só o riso é universal
Por haver nele coloquialismo e esquivança de regras.

Quanta ilusão há num sorriso!
E como sorrir os desiludidos!
Uma porção de palavras se traduz no riso...
Porém, somente aquelas pensadas, mas não ditas,
Constituem ultraje e repúdio contra as proibições.

Quanta intenção há num sorriso!
Ainda que desinteressado,
Ou o tímido forjado no canto da boca,
Confessando mais que se pretende!

Quanta tristeza há também num sorriso!
Sobretudo nos que disfarçam as insinuações
E se recolhem em si mesmos
Como sorrisos falsos e comunicações oficiais.

Adão Lima de Souza

Do Livro A Vela na Demasia de Vento