segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

E APOIS! – COPA DA MORTE: ACIDENTES OU INCIDENTES?

OS “ELES” QUEREM NOS FAZER CRER que os níveis elevados de mortes por acidentes – ou seriam incidentes – do trabalho são perfeitamente normais, no Brasil. E que as ocorrências derivam de culpa exclusiva do trabalhador em não observar as normas de segurança ou, então, por consequência do acaso. É o caso das construções de estádios para a Copa, em que passa de 230 o número de mortes, superando com margem inalcançável o registro de vítimas dos países sedes desde 1970, no México. Enquanto isso as grandes empreiteiras superfaturam seus lucros devido à economia feita com a relativização dos procedimentos de segurança e a ausência ou insuficiência de equipamentos de proteção individual e coletivo para o trabalhador brasileiro. 

Diferentemente, dá-se, porém, com os pequenos ambulantes escalados para venderem suas “mingongas”  nas imediações das arenas. Forçados a atender padrões onerosos de higiene se quiserem trabalhar honestamente, como no caso das Baianas do Acarajé, em Salvador, obrigadas a abandonarem procedimentos tradicionais de feitura do quitute para se adaptarem ao paladar exigente dos convidados dos “Eles” e da FIFA. Ao passo que esta se matem conivente com o trabalho insalubre e periculoso nos países sedes, quando não escravocrata como no caso do Catar, próxima sede do Mundial.

Diante disso, ouvir de uma pessoa leiga: “Se no Brasil se impõe regras rígidas de higiene e segurança para evitar indigestões causadas pela “comilança” de quitutes exóticos, mas, ao mesmo tempo, flexibiliza normas imprescindíveis à integridade do trabalhador da construção de estádios de futebol, a fim de garantir a ganância de empreiteiras corruptas, então está sacramentada a insignificância do cidadão perante o Estado Brasileiro”. Os construtores e outras pessoas letradas a serviço dos “Eles” dirão que, pela envergadura e importância de um evento como a copa, o brasileiro precisa doar sua cota de sacrifício, porque a partir de agora o mundo verá o Brasil de forma respeitosa.

E quanto aos familiares dessas vítimas da ganância e da negligência, abandonados à própria sorte porque, no Brasil, a ocasião definida pelos “Os Eles” é quem determina, conforme os interesses em jogo, que lei deve ou não ser respeitada,  entenderão eles,  algum dia, que por ser o sujeito pobre apenas uma peça nesse macabro jogo de concentração de riquezas, o Estado tem legitimidade presumida para aniquilá-los, uma vez que os desvalidos sempre são legalmente matáveis?  E que, quando se fala em proteção ao trabalho, quer-se, ao mesmo tempo, dizer que somente são viáveis as medidas de segurança que não importem em entraves para o progresso?

Por essas e outras, é que a relação capital e trabalho no Brasil foi sempre perversa. Pois, contribui de maneira decisiva e cruel para ampliar o abismo entre empregados e patrões, locupletando estes e condenando à miséria quem precisa vender sua força de trabalho. Enquanto isso, vai-se convencendo a famigerada classe média acrítica dos discursos pré-fabricados pela grandiloquência “Dos Eles” , a fim de que o trabalhador se resigne ante as mortes evitáveis na construção de estádios para o deleite e manutenção do “status Quo” de uma classe parasitária e indiferente ao sofrimento das famílias vitimadas pelo desprezo e o lucro voraz.


ENTÃO, como se dizem os tecnocratas: “O progresso exige do povo sacrifício e perseverança”, além do mais, não é, conforme profetizou o estandarte do futebol brasileiro, com hospitais e obediência às Leis trabalhistas que se faz uma invejável Copa do Mundo, e, sim, com arenas imponentes e faraônicas, ainda que a custa de vidas de honestos pais de famílias. Entretanto, temos um consolo: O Catar supera nosso número de 234 mortos. EU É QUE NÃO ACREDITO MAIS NOS “ELES”. E VOCÊ?

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