Por que confinas em tua poesia
A dor tua e do outro?
Na poesia não cabem dores
Próprias ou alheias,
Nem humildes sentimentos... ou altivos!
As dores que te alquebram,
Os adjetivos mensuram com demasiada maestria.
Como também a mediocridade
Tua e minha.
Como impor à poesia
A pauta da última reunião
Ou a deliberação do sindicato?
Não podemos submetê-la à apreciação do partido.
Isto macularia a poesia.
Manifestações políticas,
De apreço,
Abaixo-assinado,
Indicações à diretoria insultariam a poesia.
Não vimos na poesia Brecht fazer nomeações.
Nem Maiakovski discursar no parlamento.
Ficam de fora da poesia os medicamentos homeopáticos,
Mas cabe um pneumotórax
E venenos anti-monotonia.
Na poesia cabem palavras (in) variáveis,
Delírios, a alegria da caatinga e as revoluções.
Adão Lima de Souza
Do Livro A Vela na Demasia de Vento.
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