segunda-feira, 31 de março de 2014

O que cabe na poesia?


Por que confinas em tua poesia
A dor tua e do outro?
Na poesia não cabem dores
Próprias ou alheias,
Nem humildes sentimentos... ou altivos!

As dores que te alquebram,
Os adjetivos mensuram com demasiada maestria.
Como também a mediocridade
Tua e minha.

Como impor à poesia
A pauta da última reunião
Ou a deliberação do sindicato?
Não podemos submetê-la à apreciação do partido.
Isto macularia a poesia.

Manifestações políticas,
De apreço,
Abaixo-assinado,
Indicações à diretoria insultariam a poesia.

Não vimos na poesia Brecht fazer nomeações.
Nem Maiakovski discursar no parlamento.

Ficam de fora da poesia os medicamentos homeopáticos,
Mas cabe um pneumotórax
E venenos anti-monotonia.

Na poesia cabem palavras (in) variáveis,
Delírios, a alegria da caatinga e as revoluções.

Adão Lima de Souza
Do Livro A Vela na Demasia de Vento.


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