sábado, 22 de março de 2014

Machado de Assis e a Nova Literatura brasileira.

Alguns dos escritores da geração nascida por volta da década de 1960, e que começaram a publicar livros nos anos 90, têm, por exemplo, algumas características definidas pela vivência no período da ditadura brasileira (entre os anos 1960 e 1980) que estão presentes em muitos dos seus romances.
“Toda a nossa juventude foi vivida durante o regime militar. E parte dessa experiência influenciou a nossa literatura”, afirma o escritor amazonense Milton Hatoum, de 61 anos, autor de Dois Irmãos, eleito por uma pesquisa do jornal Correio Braziliense como o melhor romance dos últimos 15 anos, e Cinzas do Norte, vencedor do prêmio Portugal Telecom de Literatura.
Um exemplo que ilustra bem a teoria de Hatoum, é o livro O Filho Eterno(2007), do escritor Cristovão Tezza. No romance, que recebeu os prêmios São Paulo de Literatura, Portugal Telecom e Jabuti, Tezza narra a própria história, de quando tinha seus 30 e poucos anos e vivia no período da ditadura brasileira. O personagem central é surpreendido pela gravidez da esposa. E a surpresa se torna maior quando ele descobre que seu filho tem Síndrome de Down. Entre a militância na política e o início da carreira de escritor, o autor narra na ficção  as dificuldades reais em aceitar e conviver com a criança.
Misturar sua própria história a uma ficção é, aliás, outra tendência. Chamado de auto ficção, o gênero combina informações biográficas do autor para construir as narrativas. É um estilo que aparece em diversos livros, não só de autores brasileiros, mas também de outros países.
Mas não é só disso que os romancistas brasileiros estão falando. “Embora esse estilo esteja sendo praticado em várias literaturas, inclusive no Brasil, acho que o que caracteriza a nossa literatura contemporânea é a diversidade. Não há um caminho único sendo trilhado nesse momento”, diz o escritor mineiro, Luiz Ruffato, de 53 anos, colunista deste diário e autor de Estive em Lisboa e Lembrei de Você (2009).
Para o escritor pernambucano Marcelino Freire, 47 anos, autor de Contos Negreiros (2005), vencedor do prêmio Jabuti, a autoficção mesmo sendo uma tendência, não é uma novidade. “Fala-se muito da autoficção, mas acho isso uma bobagem, porque quando um escritor escreve alguma coisa, muito do que ele viveu está no que ele faz, naturalmente”, diz. “Se você pensar na Clarice Lispector, com A Hora da Estrela (1977), por exemplo, e, em Franz Kafka, com A Metamorfose (1915), essa característica já estava presente em seus livros”.
Para ele, a urbanização da literatura brasileira é, esse sim, uma forte característica dos romances que vêm sendo publicados nas últimas duas décadas. “A urbanização do imaginário da literatura brasileira é um fenômeno recente – porém irreversível”, escreve Pinto em seu livro Paisagens Interiores e Outros Ensaios (2012).
A Geração 90, além dos resquícios de ter vivido sob um regime ditatorial, tem também a periferia decadente de São Paulo como epicentro, “com um evidente fascínio pela marginalidade”, diz.
Outro exemplo de que a concisão pode estar na moda, mas não é algo de hoje, é o escritor Machado de Assis (1839-1908) que no século passado já escrevia, dentre outras coisas, seus microcontos. “Pensa no quanto Machado de Assis já era moderno?”, diz Freire, lançando luz sobre outra tendência. “O que eu acho que tem sempre de novo e, ao mesmo tempo, sempre será velho na literatura é a dor. Cada um sabe o que está doendo. A dor de Dostoievski é a mesma dor que vai aparecer na minha literatura, o que difere é o olhar que cada um lança sobre ela”.
Por: Adão Lima de Souza

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