Sartre rejeita enfaticamente a ideia de causas inconscientes
dos fatos psíquicos; para ele tudo que está na mente é consciente. Rompeu com a
psicanálise por esta retirar a responsabilidade do indivíduo ao invocar a ação
de uma força subconsciente e estados mentais inconscientes, que, para Sartre,
não existem.
Sustenta que a consciência é necessariamente transparente para si
mesma. Todos os aspectos de nossas vidas mentais são intencionais, escolhidos,
e de nossa responsabilidade, o que é incompatível com o total determinismo
psíquico postulado por Freud.
Teríamos de atribuir a repressão inconsciente a alguma
instância dentro da mente (a "censura") que distingue entre o que
será reprimido e o que pode ficar consciente, de forma que essa censura tem de
estar a par da ideia reprimida a fim de não estar a par dela. Portanto, o
inconsciente não é verdadeiramente inconsciente.
Em algum nível eu estou
consciente, e escolho, o que vou e o que não vou permitir vir claramente à
minha consciência. Por isso não posso usar "o inconsciente" como uma
desculpa para meu comportamento. Mesmo que eu não possa admitir para mim mesmo,
eu estou consciente e escolhendo. Mesmo na decepção que sofro, eu sei que sou
eu aquele que me decepciona, e o assim chamado "Censor" de Freud deve
estar consciente para saber o que reprimir.
Aqueles que usam o inconsciente como desculpa do
comportamento acreditam que nossos instintos, nossas inclinações e nossos
complexos constituem uma realidade que simplesmente é; que não é verdadeira nem
falsa em si mesma mas simplesmente real.
Somos responsáveis por nossas emoções, visto que há maneiras
que escolhemos para reagir frente ao mundo. Somos também responsáveis pelos
traços duradouros da nossa própria personalidade. Não podemos dizer "sou
tímido", como se isto fosse um fato imutável, uma vez que nossa timidez
representa a forma como agimos, e que podemos escolher agir diferentemente.
Nossos atos nos definem. Na vida, o homem se compromete,
desenha seu próprio retrato e não há mais nada senão esse retrato. Nossas
ilusões e imaginação a nosso respeito, sobre o que poderíamos ter sido, são
decepções auto-infligidas. Permanentemente estamos a nos fazer do modo que
somos. Uma pessoa "corajosa" é simplesmente alguém que geralmente age
com bravura. Cada ato contribui para nos definir como somos, e em qualquer momento
podemos começar a agir de modo diferente e desenhar um retrato diferente de nós
mesmos. Há sempre uma possibilidade de mudança, de começar a fazer um tipo
diferente de escolha. Temos o poder de nos transformar indefinidamente..
O instrumento proposto por Sartre para que possamos
conseguir um auto-conhecimento genuíno é a Análise existencial. Ele chama
"Psicanálise Existencial" a "Uma psicanálise que busca não as
causas do comportamento de uma pessoa, mas o seu sentido" (O que o
comportamento exprime como escolha).A função desta psicanálise não é procurar
as causas do comportamento de uma pessoa, mas o seu sentido A realidade humana
identifica-se e se define pelos fins que busca e não por pretensas
"causas" no passado.
Nenhuma "essência" determinada de mim mesmo
orienta a priori meu comportamento. Porém, há o que Sartre chama "Projeto
Original". Como uma pessoa é essencialmente uma unidade, e não apenas um
amontoado de desejos ou hábitos sem relação, deve haver para cada uma delas uma
escolha fundamental por um papel ou script de vida, o "projeto
original", o qual dá o significado de qualquer aspecto específico de seu
comportamento.
A radical oposição de Sartre à psicanálise influiu
grandemente na psiquiatria de seu tempo. Ronald David Laing (1927-1989), um
conhecido psiquiatra inglês de origem escocesa, que buscou um novo método de
tratamento da loucura seguindo a filosofia existencialista. Entre suas
principais obras está Reason & Violence: A Decade of Sartre's Philosophy
("Razão e violência: uma década da filosofia de Sartre"), em
co-autoria com D.G. Cooper, de 1971.
Por: Rubem Queiroz Cobra
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