quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Invocação do Recife



Recife do rio Capiberibe!
Ou Capibaribe como evocou o poeta!
Suas ruas infestadas de comércio e gente
Por onde outrora divagavam os poetas
E os seus heróis sangravam por ti,
Hoje, impera o desamparo
E seus filhos, combalidos
Se precipitam para o mar
A procura de abrigo e acalanto
Já não sonham mais... Apenas persistem!

Recife do rio Capibaribe!
Ou Capiberibe como evocou o poeta!
Suas calçadas repletas de miséria e dor,
Outrora, ilustres libertadores caminhavam
Enquanto prenunciavam um mundo melhor
Hoje, inerte, assiste o sucumbir dos seus heróis
E seus filhos, vencidos
Se precipitam para o esquecimento
Alijados do cuidado e da afeição.
Já não amam mais... Apenas esperam!

Recife do rio Capiberibe!
Ou Capibaribe como evocou o poeta!
À tua margem, o poeta engenheiro
Espreita as imponentes construções
À procura, nas modernas casas-grandes,
Do olhar trancafiado dos senhores livres
Que ensurdeceram para os gritos vindos da senzala
Que se ergue medonha
Em tuas ruas de nomes esperançosos!
E contra, teus filhos, desiludidos,
Se precipita a noite
A lhes devorar o sonho e o temor!
Já não ousam... Apenas aceitam!

Recife do rio Capibaribe
Ou Capiberibe como evocou o poeta!
Suas ruas agora são mangues
Onde há fome e falta identidade!
E homens-caranguejos
De membros debilitados
Escavam a lama de concreto e asfalto!
À procura de saída e acolhimento!
E contra seus filhos, Anjos caídos,
Se precipita a mentira
A corroer o que restou de probabilidades!
Já não são...  Apenas estão!

Recife do rio Capiberibe!
Ou Capibaribe! Que importa?!
Se não fora ouvida a evocação do poeta
E suas ruas desmereceram seus nomes -
De esperança, de união, da aurora –
Pois, deixastes que os escravagistas modernos
Desonrassem o sangue de teus heróis
Erguestes a bandeira da miséria
Tão impregnada de eternidade!
E seus filhos, derrotados
Foram impedidos de vingar tua aurora!
Já não beligeram mais... Apenas imploram!

Recife do rio Capibaribe! Ou Capiberibe!
Recife do rio dos infortúnios! Isto sim!
Como deveriam evocar os poetas!
Suas ruas traduzem o desamparo
E contra teus filhos, heróis anônimos!
Se precipitam os arrecifes,
Despejando-os na mendicância dos sonhos!
Não os deixastes ir embora pra Pasárgada
Porque não eram amigos do rei!

Recife do rio Capiberibe! Ou Capibaribe!
Como o evocaria hoje o poeta?

Adão Lima de Souza
Do Livro A Vela na Demasia de Vento


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