segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Alma bissexta


Oxalá! Seja-me a vida nefasta
Como é minha alma bissexta.
Pois sou pessoa cruel, funesta
De quem toda compaixão se afasta
Atraindo a vilania, a indecência
De um amar sem indulgência.

Só alguém sem dignidade, respeito
Tão volumosamente vil e repugnante
Tanto que em todo lugar, a todo instante
Demonstra pelos amigos despeito,
Por inveja e mediocridade,
Não merece nenhuma hombridade.

Não poder sequer dizer-se homem
Por não ser civilizado
Tal sujeito rústico, mal lapidado
Ainda esmerado os defeitos não somem

Mereço terríveis castigos
Tal qual os mal feitores, outrora,
Morrer com horror e demora
Pregado na cruz pelos amigos
Isso ainda não redimiria todo pecado
Como foi com o inocente crucificado.

Se fosse punição maior a morte
Aceitaria com pesar, mas resignado
Pois se pena tão leve tivesse todo culpado
Já que é inevitável tal sorte
Sem se ponderar mais e mais se pecaria
E com regozijo a punição se pediria.

Porém, para tão vil alma,
Maior castigo é não morrer
Sentir remoço, perecer
Num movimento eterno e sem calma
Sentir por cada ato o mal em cada rosto
E sentir no corpo o flagelo do desgosto.

Adão Lima de Souza
Do Livro: A Vela na Demasia de Vento.


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