domingo, 15 de dezembro de 2013

Concessão para um protesto tímido

A Vela na Demasia de Vento



Quis revoltar-me e me contive
Havia, em mim, pouca rebeldia latente
Depois de anos de concessão:
Casa, trabalho, família,
Algemas cotidianas que estimulam 
E impedem a fuga.


Inconformado,
Articulei um grito
Em plena agitação da praça.
Porém, a voz vacilante,
E num engasgo,
Acolheu a mentira
Da indumentária que não aquece,
Da falsa proteção do abrigo
E quedou-se num silêncio cômodo.


Na hora do almoço
Redigi manifestos,
Quis proferir discurso contra a rotina,
Mas a autorização não chegou a tempo
Então com palavras efusivas de apreço
Retornei ao trabalho resignado.


Sentindo-me jovem ainda,
Propus revolução e mudança
Aos berros, insultava o garçom pela demora,
Enquanto lhe ofertava boa gorjeta

Com alívio e cristandade,
Em meio aos comentários elogiosos
Sobre o carro do ano.

Nos dias de folga,
Pensei em protestar
E me rendi ao sossego
Da poltrona na sala
À espera do jantar
Diante do vídeo sem alforria. 


Chegavam-me rumores de explosão e fúria.
Tranquilizou-me a distância,
Convencendo-me da necessidade de paz.
O sono precipitando-se sobre coisas
Trouxe sonhos intranquilos
Sobre vontades insatisfeitas
Enquanto avançava a noite,
E, profundamente eu adormecia
Reclamando um novo amanhecer.



Adão Lima de Souza

Do Livro A Vela na Demasia de Vento

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