A Vela na Demasia de Vento |
Quis revoltar-me e me
contive
Havia, em mim, pouca
rebeldia latente
Depois de anos de concessão:
Casa, trabalho, família,
Algemas cotidianas que
estimulam
E impedem a fuga.
Inconformado,
Articulei um grito
Em plena agitação da praça.
Porém, a voz vacilante,
E num engasgo,
Acolheu a mentira
Da indumentária que não
aquece,
Da falsa proteção do abrigo
E quedou-se num silêncio
cômodo.
Na hora do almoço
Redigi manifestos,
Quis proferir discurso
contra a rotina,
Mas a autorização não chegou
a tempo
Então com palavras efusivas de
apreço
Retornei ao trabalho
resignado.
Sentindo-me jovem ainda,
Propus revolução e mudança
Aos berros, insultava o
garçom pela demora,
Enquanto lhe ofertava boa gorjeta
Com alívio e cristandade,
Em meio aos comentários
elogiosos
Sobre o carro do ano.
Nos dias de folga,
Pensei em protestar
E me rendi ao sossego
Da poltrona na sala
À espera do jantar
Diante do vídeo sem alforria.
Chegavam-me rumores de
explosão e fúria.
Tranquilizou-me a distância,
Convencendo-me da
necessidade de paz.
O sono precipitando-se sobre
coisas
Trouxe sonhos intranquilos
Sobre vontades insatisfeitas
Enquanto avançava a noite,
E, profundamente eu adormecia
Reclamando um novo
amanhecer.
Adão Lima de Souza
Do Livro A Vela na Demasia de Vento
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