sábado, 8 de janeiro de 2011

O BRASIL DE LIMA BARRETO

 

Impressões sobre o livro Recordações do Escrivão Isaías Caminha de Lima Barreto.
Pobres de tão pretos, pretos de tão pobres.
(Gilberto Gil e Caetano Veloso)

No livro Recordações do escrivão Isaías Caminha, Lima Barreto retrata o Brasil de seu tempo com riquezas de detalhes, num olhar crítico que denuncia as mazelas de um país que desde a sua “descoberta pelos Portugueses”, parece mergulhado num mar de lama e falcatruas, onde os poderosos são quem ditam as regras que regem a nossa incipiente República Tupiniquim.
Com perspicácia, o Autor desvela os estratagemas sórdidos com que a elite brasileira controla a Política, e através desta os meios democráticos, como a imprensa e a opinião pública, conduzindo a nação de acordo com os interesses mesquinhos capazes de, em detrimento de todos, cada vez mais, locupletar-se.
Pode-se perceber, com demasiada clareza, as similitudes daquele e do atual Brasil quando se pensa na condição do negro. Antes, submetido à escravidão; depois, ao abandono e a miséria e, hoje, no Brasil republicano, onde todos são iguais perante a lei; ao preconceito e marginalidade, vivendo em condições subumanas, seja nas prisões, seja nas favelas onde predominantemente é maioria incontestável.
Lima Barreto, nas páginas de tão importante obra para compreensão histórica do país, não se furta a relatar as condições em que está vivendo aquela que outrora fora a força motriz da economia brasileira, sujeita aos rudes castigos nos pelourinhos e outras inumanidades que povoavam as senzalas dos senhores de escravos. Também, não se esquiva a mostrar as futilidades que permeiam os discursos dos políticos da época, comprometidos que eram com a as forças ruralistas, como os de agora são com o grande capital e, ao contrário do cria o povo pelas promessas feitas, detinham-se em frivolidades enquanto sorrateiramente forjavam leis que oprimiam e expropriavam trabalhadores honestos.
Visto, sob o olhar de Isaias Caminha e pelas agruras por que passou, o Brasil de hoje trouxe poucas mudanças no sentido de estreitar as diferenças sociais que separam ricos e pobres, brancos e negros, mulheres e homens. Pelo menos nenhuma significativa ainda que pudesse ofertar a seu povo condições dignas de vida. Pois, se o preconceito não alcança, ainda, a raia da intolerância se deve mais ao fato de que brancos e negros, por serem igualmente pobres, foram condenados as mesmas adversidades, habitando favelas insalubres e paupérrimas, do que a uma mudança de postura da sociedade brasileira.
Pelo visto, o Brasil é ainda o mesmo. Pois como dissera Oswald de Andrade, desde o tempo das odiosas Capitanias Hereditárias o Brasil vive em estado Sítio.

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